domingo, 2 de agosto de 2009

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desértico e aturdido



Desértico e aturdido


Por vezes antecipei-me com o olhar, para ver antes de fotografar, se tudo era mesmo colorido, se tinha forma o disforme do mundo, se era verde o azul, ou o azul, vermelho. Mas com a câmera em frente a seu rosto, fiz-me outro, e deixei-me deixar-lhe dizer tantos, e todos os versos de uma imagem que só veria depois de refeita, revelada, e ampliada. Em minhas mãos seria catatônica a verdade que meus olhos não viam. Por vezes, nem me antecipei, e você, objeto de meus olhos, seria o modelo perfeito na paisagem obscura e desértica da noite, por vezes, você se faria fantasma, e eu nem me ousaria a duvidar de sua disforme presença, o corpo se ausenta, e o espectro fala, dialoga, monologa com si, comigo, com a lente. A gente às vezes nem sabe bem o que fotografar, e você, posto em desejo, se vê sem reação, parado sob meus comandos e aturdido pelo flash, que liguei de última hora. Por vezes, perdemos a hora, e ficamos a ver paisagens flutuantes, corpos dançantes e mulheres seminuas na praia, eu fotografando você, e você vendo o mar. Em minhas mãos caberiam cores, mesmo num preto e branco colorido, a vida exposta ao papel, você exposto ao céu, à luz, e eu, a você, vê? Todas as nossas fomes retratadas, todas as nossas veias vinculadas à tinta, e quando paramos de fotografar, adoecemos, marginalizamo-nos: você, porque se torna qualquer um, eu, porque sou um que não vê, não ousa, não sente, não há quem minta, que a minha e a sua verdade é a foto.